29 julho 2012

O pálido sentir da madrugada

Abro com um texto que escrevi em Fevereiro de 2006, no blog Geometria do Abismo, que dediquei à Filosofia Portuguesa:

«Passei de carro, era perto de Vila do Conde. E levava na memória o nome: Rio Mau. Na curva da sinuosa estrada, ainda me passou pela cabeça a ideia de subir, procurar, encontrar. Mas é isto o selvagem urbano com um automóvel nas mãos: segui deliberadamente em frente, regressando a Lisboa. Tinha lido em Dalila Lelo Pereira da Costa, na sua «Corografia Sagrada», onde compilou um artigo que publicara em Agosto de 1989, que era ali que estava o homem engolido pelo monstro, simbolizado na Igreja românica de São Cristóvão de Rio Mau. Erguida pelos Templários, nela está expresso "o valor ritual e existencial do sofrimento, como meio de transmutação". Na dureza granítica da vida, a ideia de que, no irrequieto movimento da viagem pela vida, não mais lá voltarei, persegue-me como se vistos os sinais, tivesse fechado os olhos à luz, o cego que não quer ver».

E abro porque, entretanto, reabertos os olhos, estava reencontrada a magnífica e ofuscante luminescência, a madrugada do pálido sentir, a formar-se como a ascensão solar dos sentimentos a comemorar a lunação das sensações.